O Paradoxo da Educação em Mato Grosso: Como medir o sucesso?


Investigamos um fenômeno aparentemente contraditório no sistema educacional de Mato Grosso: como explicar o crescimento exponencial de 55,9% nos afastamentos médicos de professores entre 2016 e 2024, justamente no período em que o estado melhorou 13 posições no ranking nacional do IDEB, saltando da 21ª para a 8ª colocação? Esta análise pioneira no Brasil buscou quantificar, o trade-off entre melhoria de indicadores educacionais e saúde ocupacional dos profissionais da educação, revelando custos humanos ocultos das políticas de "modernização" educacional implementadas durante o governo Mauro Mendes.
Nossa equipe conduziu uma análise de série temporal robusta utilizando dados oficiais da SEPLAG-MT, TCE-MT, SEDUC-MT e INEP, cobrindo o período 2016-2024 com projeções até 2027. Aplicamos técnicas estatísticas avançadas incluindo análise de correlação com intervalos de confiança (método Fisher), modelagem polinomial, análise bootstrap com 1.000 iterações e testes de robustez estatística.
A análise identificou três fatores com correlações mais fortes com o adoecimento docente: pressão por resultados (r = 0,728), sistema de meritocracia/Gratificação por Resultados (r = 0,709) e sobrecarga tecnológica (r = 0,591). O pico histórico de 52,63% dos afastamentos estaduais concentrados na educação ocorreu em 2023, coincidindo exatamente com a implementação da Gratificação por Resultados - um sistema que condiciona benefícios salariais ao desempenho dos estudantes em avaliações padronizadas. A digitalização intensiva, com 180 mil Chromebooks e plataformas obrigatórias com metas rígidas, contribuiu para a intensificação do trabalho docente sem adequada formação ou suporte técnico.
Quantificamos os custos econômicos ocultos do modelo atual em R$ 258,8 milhões anuais, distribuídos entre substituições de professores afastados (R$ 89,3 milhões), perda de produtividade (R$ 156,8 milhões) e tratamentos médicos (R$ 12,7 milhões). Estes custos superam amplamente qualquer economia gerada pelas políticas de "eficiência" implementadas, revelando a insustentabilidade econômica do modelo além dos custos humanos.


Nossas projeções estatísticas para 2025-2027 indicam três cenários possíveis: no cenário base (manutenção das políticas datadas), os afastamentos atingirão 49,4% ± 7,4% em 2027, representando aproximadamente 5.930 servidores afastados. O cenário otimista (implementação de reformas estruturais) poderia reduzir este percentual para 42,0%, enquanto o cenário pessimista (intensificação das políticas atuais) elevaria os afastamentos para 56,8%, aproximando-se de uma situação de colapso do sistema educacional.
Esta análise representa um avanço na avaliação de políticas educacionais brasileiras, sendo pioneira a quantificar rigorosamente os trade-offs entre performance educacional e saúde ocupacional. Mato Grosso provou que é possível melhorar indicadores educacionais rapidamente, mas demonstrou também que este caminho, se mantido, é insustentável. A verdadeira qualidade educacional não pode ser construída sobre o adoecimento de seus profissionais. É imperativo que outros estados aprendam com esta experiência antes de implementar políticas similares, desenvolvendo modelos que promovam simultaneamente a excelência educacional e o bem-estar dos educadores.
Assine nossas atualizações
Fique por dentro das últimas notícias e gráficos